Ambiente Obesogênico
O aumento exponencial da obesidade nos faz concluir que as estratégias atuais para prevenção e controle da doença estão falhando. Dessa forma, é importante mudar a visão tradicional de que a obesidade é uma falha pessoal, pois ela é uma consequência da interação das pessoas com ambientes obesogênicos (Swinburn, 2019). O ambiente obesogênico é definido como o ambiente que oferece oportunidades e condições de vida que promovem a obesidade em indivíduos ou populações, ou seja, é o ambiente que dificulta as escolhas saudáveis e favorece o sedentarismo e hábitos alimentares inadequados (Egger & Swinburn, 1997).
O modelo conceitual denominado Análise do Quadro Ambiental à Obesidade (ANGELO) foi desenvolvido para conceituar o ambiente obesogênico e identificar possíveis intervenções. O quadro é dividido em linhas e colunas que incluem as classificações do ambiente de acordo com as dimensões (microambiente e macroambiente) e de acordo com os tipos (ambiente físico, econômico, político e sociocultural) (Swinburn; Egger & Raza, 1999).
O microambiente se refere aos espaços onde o indivíduo vive o seu cotidiano, tais como: domicílio, locais de trabalho, escolas, supermercados. O macroambiente envolve o que influencia a população, como por exemplo: tecnologias, mídia, sistema de transporte, indústria de alimentos, desenvolvimento urbano (Swinburn; Egger & Raza, 1999).
Em relação aos tipos de ambiente, o ambiente físico refere-se ao que está disponível (restaurantes, supermercados, ciclovias, iluminação pública, inovações tecnológicas), o ambiente econômico abarca os fatores financeiros (custos com produção e transporte de alimentos, custos de automóveis e combustíveis, renda familiar), o ambiente político leva em conta as leis e políticas que afetam a oferta e o comportamento dos indivíduos e das organizações (Ex: Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAN, Programa Academia da Saúde), já o ambiente sociocultural refere-se as crenças e atitudes da sociedade relacionadas a alimentação e a atividade física. (Swinburn; Egger & Raza, 1999).
Para modificar o ambiente obesogênico é importante primeiramente compreender e reconhecer os determinantes da obesidade, para assim atuar de forma direcionada nesses determinantes, tanto nas dimensões macro e micro. Segundo Gortmaker et al, (2015), são ações que podem ser realizadas para modificar o ambiente obesogênico:
- Impostos sobre bebidas açucaradas;
- Regulamentação na publicidade e marketing de alimentos não saudáveis para crianças;
- Aprimoramento da Rotulagem Nutricional para favorecer o acesso da população à informação;
- Reorganização dos serviços de saúde em Redes de Atenção à Saúde e Linha de Cuidado que favoreçam uma abordagem mais integrada e intrassetorial da obesidade;
- Estímulo à cooperação e a articulação intersetorial;
- Alterações no Sistema Alimentar.
Referências:
Swinburn BA, Kraak VI, Allender S, et al. The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change: The Lancet Commission report. Lancet. 2019;393(10173):791-846. doi:10.1016/S0140-6736(18)32822-8.Swinburn BA,
Sacks G, Hall KD, et al. The global obesity pandemic: Shaped by global drivers and local environments. Lancet. 2011;378(9793):804-814. doi:10.1016/S0140-6736(11)60813-1.
Garry Egger, Boyd Swinburn. An “ecological” approach to the obesity pandemic. BMJ. 1997; 315:477-483. doi: 10.1136/bmj.315.7106.477.
Swinburn, Egger, Raza. Dissecting obesogenic environments: the development and application of a framework for identifying and prioritizing environmental interventions for obesity. Preventive Medicine, v.29, n.1, p. 563-70, 1999.
Gortmaker SL, Wang YC, Long MW, et al. Three interventions that reduce childhood obesity are projected to save more than they cost to implement. Health Aff. 2015;34(11):1932-1939. doi:10.1377/hlthaff.2015.0631.
Por que uma nova rotulagem nutricional no Brasil? Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável. Disponível em: https://alimentacaosaudavel.org.br/campanhas/rotulagem/ Acesso em: 29 abr. 2021
Autora: Luiza Delazari Borges