O que você não sabe sobre os estigmas da obesidade

Postado em 30/abr/2020

A Obesidade é uma doença crônica que funciona como a porta de entrada para outras doenças como a diabetes e a hipertensão. Em 2019, a obesidade já atingiu 20,3% da população adulta do Brasil, e o excesso de peso, 55,4%, segundo os dados do Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico). Com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, dos adultos com diabetes e hipertensão, 75,2% e 74,4% têm excesso de peso, respectivamente. Dessa forma, podemos perceber como essas doenças crônicas estão relacionadas e, como são importantes ações para prevenir e frear a obesidade e doenças associadas.

Contudo, é essencial termos consciência de outros riscos que a obesidade oferece. Nesse sentido, a abordagem culpabilizadora é muito frequente para pessoas com obesidade, recaindo inúmeras vezes sobre essas a culpa de sua situação, como se não se preocupassem com a própria saúde. Muitos acreditam que as causas da obesidade, estão associadas unicamente a uma alimentação inadequada e à falta de exercícios. Sendo assim, para muitos é lógico que as pessoas com obesidade são desmotivadas e sem interesse em adotar as práticas saudáveis. Porém, não é levado em conta que a obesidade pode ter diversas origens, e também uma relação profunda como a forma que a nossa sociedade está estruturada.

O Estigma do peso ou da obesidade é uma forma de comportamentos discriminatórios que são direcionados as pessoas por causa do seu peso. Esses estigmas podem se arrastar por quase toda a vida de um indivíduo, começando pela idade jovem e podendo durar até a sua vida adulta. Essas pessoas passam por inúmeros preconceitos, podendo se casar com menos frequência, experiênciar menos oportunidades de estudos e na carreia. Sendo que a pessoa obesa além de sofrerem com a saúde fisiológica, ainda sofrem com a discriminação e com a saúde psicológica.

Os estigmas se manifestam por meio de estereótipos (por exemplo: indivíduos com obesidade são preguiçoso, gulosos, com falta de força de vontade e disciplina) e por gordofobia (medo ou aversão a pessoas obesas, a obesidade, ou se tornar obeso). Esse preconceito leva a rejeição social e a um tratamento e julgamento injusto.

É importante o combate à discriminação por causa do peso e que o assunto seja tratado com respeito. É essencial o aumento da conscientização sobre a gravidade, diversidade e prevalência do estigma do peso. A mídia inúmeras vezes retratam a obesidade reforçando os estereótipos negativos e que são imprecisos sobre as pessoas que são obesas. É necessário que a mídia seja uma aliada importante no combate ao estigma da obesidade, uma vez que, ela pode e deve retratar a obesidade de maneira precisa, informativa e justa.

Desse modo, é muito importante que se reconheça que as mudanças no estilo de vida, não são individuais; é necessário o reconhecimento de que a vida em sociedade precisa favorecer os hábitos saudáveis. Ademais, é importante o reconhecimento da obesidade como uma condição multifatorial, envolvendo fatores que estão além do controle do indivíduo. Essa linha de raciocínio também colabora para desconstruir os rótulos e os preconceitos que transpassam as pessoas com obesidade.

 

Referências:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis. Vigitel Brasil 2019 : vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico : estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019 [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças não Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020. 137. : il.

Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério da Saúde, IBGE. Pesquisa Nacional da Saúde. Percepção do Estado de Saúde, Estilos de Vida. Rio de Janeiro, 2013.

WERKHOVEN, Thea. Projetar, implementar e avaliar uma intervenção educacional visando o viés de peso e o estereótipo de gordura. Jornal de Psicologia da Saúde , p. 1359105319901310, 2020.

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